Você sabia que CRASE não é acento? Crase é a fusão de duas vogais iguais, é a contração de dois “aa”. Acento grave (`) é o sinal que indica a crase (a + a = à).
Para haver crase, é necessário que existam dois “aa”. O primeiro a é preposição; o segundo pode ser:
1) artigo definido (a/as):
“Ele se referiu a (preposição) + a (artigo) carta.” = “Ele se referiu à carta.”
“Ele entregou o documento a (preposição) + as (artigo) professoras.” = “Ele entregou o documento às professoras.”
2) pronome demonstrativo (a/as):
“Sua camisa é igual a (preposição) + a (pronome = a camisa) do meu pai.” = “Sua camisa é igual à do meu pai.”
“Ele fez referência a (preposição) + as (pronome = aquelas) que saíram.” = “Ele fez referência às que saíram.”
3) vogal a inicial dos pronomes aquele, aqueles, aquela, aquelas e aquilo:
“Ele se referiu a (preposição) + aquele livro.” = “Ele se referiu àquele livro.”
“Ele fez alusão a (preposição) + aquelas obras.” = “Ele fez alusão àquelas obras.”
“Prefiro isso a (preposição) + aquilo.” = “Prefiro isso àquilo.”
Observação 1: Se o verbo for transitivo direto, não há preposição, por isso não ocorre crase:
“A secretária escreveu (TD) a carta (OD).” (a = artigo definido)
“Ele não encontrou (TD) as professoras (OD).” (as = artigo definido)
“A testemunha acusou (TD) a da direita.” (a = pronome = aquela da direita)
“Não reconheci (TD) as que saíram.” (as = pronome = aquelas que saíram)
“Nós já lemos (TD) aquele livro (OD).”
“Ainda não vi (TD) aquilo (OD).”
Observação 2: Para comprovarmos a crase, o melhor “macete” é substituir o substantivo feminino por um masculino. Comprovamos a crase se o “à” se transformar em “AO”:
“Ele se referiu à carta.” (=ao documento)
“Ele entregou o documento às professoras.” (=aos professores)
“Sua camisa é igual à do meu pai.” (=seu casaco é igual ao do meu pai)
“Ele fez referência às que saíram.” (=aos que saíram)
Observe a diferença:
“A secretária escreveu a carta.” (=o documento)
“Ele não encontrou as professoras.” (=os professores)
“A testemunha acusou a da direita.” (=o da direita)
“Não reconheci as que saíram.” (=os que saíram)
“Ele se referiu a esta carta.” (=a este documento)
“Tráfego proibido a motocicletas.” (=a caminhões)
Este “macete” não se aplica no caso dos pronomes aquele(s), aquela(s) e aquilo.
1. Ele escreve a ou à Jorge Amado?
Depende. Se ele está escrevendo “para Jorge Amado”, não há o acento da crase: “Ele escreve a Jorge Amado.” (=para Jorge Amado)
Se ele escreve “à moda ”, “ao estilo” de Jorge Amado, o uso do acento grave é obrigatório: “Ele escreve à Jorge Amado.” (=ao estilo de Jorge Amado)
Usaremos o acento grave sempre que houver uma destas locuções subentendidas: “à moda de”, “à maneira de” ou “ao estilo de”: “Sapato à Luís XV.”; “Poesia à Manuel Bandeira.”; “Revolução à 1930.”; “Vestir-se à 1800.”; “Filé à francesa.”; “Bife à milanesa.”
Em “Moramos em São Paulo de 1958 a 1960”, não há crase porque não há artigo definido antes de 1960. Em “Elas se vestem à 1960”, há acento grave porque subentendemos “à moda de 1960”.
Se os nossos cardápios fossem bem escritos, em português é claro, teríamos um “festival de crase”: “Viradinho à paulista.” (=à moda de São Paulo); “Tutu à mineira.” (=à moda de Minas); “Camarão à baiana.” (=à moda da Bahia); “Churrasco à gaúcha.” (=à moda gaúcha).
Observe que neste caso o acento grave deve ser usado mesmo antes de palavras masculinas: “Churrasco à Osvaldo Aranha.” (=à moda de Osvaldo Aranha)
1. Vou à ou a minha casa?
Tanto faz. É um caso facultativo. Pode haver crase ou não. A diferença é a presença do pronome possessivo minha antes da casa. Antes de pronomes possessivos é facultativo o uso do artigo; sendo assim, facultativo também será o uso do acento da crase: “Vou a ou à minha casa.”; “Fez referência a ou à tua empresa.”; “Estamos a ou à sua disposição.”
O uso do acento da crase só é facultativo antes de pronomes possessivos femininos no singular (=minha, tua, sua, nossa, vossa).
Se for masculino, não há crase: “Ele veio a ou ao meu apartamento”; “Estamos a ou ao seu dispor.”
Se estiver no plural,
a) haverá crase (preposição a + artigo plural as): “Fez referência às minhas ideias.”; “Fez alusão às suas poesias.”
b) não haverá crase (preposição a, sem artigo definido): “Fez referências a minhas ideias.”; “Fez alusão a suas ideias.”
2. Ele se referiu à ou a Cláudia?
Tanto faz. É outro caso facultativo.
Antes de nomes de pessoas, o uso do artigo definido é facultativo. Portanto, em se tratando de nome de mulher, pode ou não ocorrer a crase.
Quando se trata de pessoas que façam parte do nosso círculo de amizades, com as quais temos uma certa intimidade, usamos artigo definido. Isso significa que devemos usar o acento da crase: “Refiro-me à Cláudia.” (=pessoa amiga)
Quando se trata de pessoas com as quais não temos nenhuma intimidade, não há o acento da crase porque não usamos artigo definido antes de nomes de pessoas desconhecidas ou não amigas: “Refiro-me a Cláudia.” (=pessoa desconhecida ou não amiga)
Antes de nomes próprios de pessoas célebres não se usa artigo definido. Isso significa que não haverá acento da crase: “Ele fez referência a Joana d’Arc.”; “Fizeram alusão a Cleópatra.”
1. Vou à ou a terra?
O certo é: “Vou a terra.” A palavra TERRA, no sentido de “terra firme, chão” (= oposto de bordo), não recebe artigo definido, logo não haverá crase.
Observe o macete: “volto DE terra”.
Ao viajar de avião, podemos observar a ausência do artigo definido antes da palavra TERRA (=terra firme). Quando o avião está aterrissando, uma das comissárias de bordo vai ao microfone e diz: “Para voos de conexão e mais informações, procure o nosso pessoal em terra.” Por que não na terra? Porque é em terra firme, e não no planeta Terra. Em outras palavras, o que ela quer dizer é o seguinte: “Não me chateie a bordo do avião, vá ao balcão da companhia no aeroporto.”
Qualquer outra TERRA, inclusive o planeta Terra, recebe o artigo definido. Portanto, haverá crase:
“Vou à terra dos meus avós.” (=volto DA terra dos meus avós)
“Cheguei à terra natal.” (=volto DA terra natal)
“Ele se referiu à Terra.” (=volto DA Terra / do planeta Terra)
Observe a diferença:
“Depois de tantos dias no mar, chegamos a terra.” (=terra firme)
“Depois de tantos dias no mar, chegamos à terra procurada.”
2. Vou à ou a casa?
O certo é: “Vou a casa.” A sua própria casa não “merece” artigo definido.
Observe: Se “você vem DE casa” ou se “você ficou EM casa”, só pode ser a sua própria casa.
Qualquer outra casa vem antecedida de artigo definido. Isso significa que haverá crase:
“Vou à casa dos meus pais.” (=volto DA casa dos meus pais)
“Vou à casa de Angra.” (=volto DA casa de Angra)
“Vou à casa José Silva.” (=volto DA casa José Silva)
“Vou à casa do vizinho.” (=volto DA casa do vizinho)
“Vou à casa dela.” (=volto DA casa dela)
Não haverá crase somente quando a palavra CASA estiver sem nenhum adjunto:
“Ele ainda não retornou a casa desde aquele dia.”
Fonte: Professor Sergio Nogueira
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